quinta-feira, 11 de março de 2010

Relato I


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No dia 03/03/2010, deu-se inicio a reocupação do prédio que abriga a Casa do Estudante Universitário Leopoldense – CEUL. Devido a dificuldades internas e no trato pessoal entre os participantes desta associção, fatos lamentáveis ocorreram e desestabilizaram a aparente tranqüilidade que alguns moradores do prédio gostariam de preservar.

É de conhecimento geral que a estrutura em questão é prédio público, pertencente ao DAER/RS, concedida à CEUL até o ano de 2006. Deste ano em diante, o governo do estado aciona mecanismos para que os estudantes, que vinham resistindo, desocupem a casa. No ano de 2010, a pauta da governadora Yeda Cruzius é a venda do prédio do DAER/RS para a construção de um estacionamento privado para a rede Bourbon/Zaffari. O direito à moradia estudantil, que até então nem era praticado, se mantinha a base de luta, é finalmente posto em xeque neste ato de reapropriar e privatizar.

Entretanto, como se pode prever e, infelizmente, o inimigo comum ao coletivo ocupante não está sendo o principal ponto de pauta. A CEUL está polarizada entre os membros que procuram uma atuação e uma resposta mais firme às determinações do governo, e os que buscam preservar o formato da ocupação para um caráter mais leve. Importante afirmar que não se trata de uma disputa entre esquerda e direita. Há a ação da esquerda sendo desgostosa para moradores e cidadãos centralizados, independentes.

Junto à crise, questões de ordem para o conjunto estudantil que não se punham em pratica, como a discussão sobre a ampliação de vagas e a redistribuição de quartos “particulares”, surgem como propulsoras do conflito interno. O início deste debate, antes do dia 03, resultou, entre outros motivos, na decisão (ainda não efetiva, pois sem decisão em assembléia) da ala conservadora da casa pela expulsão de três membros da associação, entre eles o presidente em exercício. Estes três, então, deram início à reocupação e reorganização interna, abrindo espaço a mais estudantes para o acesso à moradia estudantil e pela luta de classe contra o governo neo-liberal.

A situação que está posta dentro da casa torna evidente a deterioração da unidade associativa e do regimento que vigorava. Ambos os lados, até então, afirmam não recuar em suas posturas. Posto isso, e dada a situação interna e externa, entendo que a relação de luta junto ao DAER/RS e ao governo estadual se enfraquece exponencialmente, pondo em risco iminente não só o acesso à moradia aos atuais ocupantes, quanto pode evitar que novos estudantes tenham acesso a este direito.

Não defende-se que, para morar na casa do estudante, seja necessário apresentar postura ideológica e assumir bandeiras. Entretanto, se o que há conquistado está em risco, espera-se que todos aqueles que usufruam da estrutura se organizem para preservar e para ampliar os direitos. Na condição de estudante, considera-se equivocada a decisão de ocupar quartos particulares e apenas aguardar uma decisão do estado de quando deve-se retirar-se, abrir mão de suas oportunidades e não reivindicar também as dos próximos.

Não trato, aqui, de legitimar ou de repudiar as manifestações internas da CEUL. Os conflitos internos devem ser resolvidos internamente. Entretanto, o risco a que está exposto todo o conjunto estudantil de ser privado do acesso à moradia, faz com que movimentos e organizações populares dêem início ao processo de reocupação da casa, para a afirmação de que o inimigo está no Piratini, e não sob o teto comum. Considerando que a casa possui sim, condições de abrigar muitos estudantes além de o número atual, o processo está se dando de maneira organizada e pacífica. Todos os atuais moradores são convidados a permanecer na casa e nenhuma ação de má fé ou agressiva fora praticada.

É importante que haja o debate amplo e de qualidade, para que a solução ao conflito se dê de maneira rápida, em principal garantindo, não apenas a um grupo, mas ao segmento estudantil, o acesso à moradia; E que o acesso à moradia, para o beneficiário, não seja algo particular, mas a oportunidade da vivência coletiva e compartilhada. E que seja para tantos quanto a estrutura seja capaz de prover.



Rodrigo Fagundes
Formação de Escritores e Agentes Literários
Unisinos

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